Quase metade dos prefeitos do país que tentou a recondução ao cargo obtiveram sucesso na eleição deste ano.
De acordo com dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) tabulados pela Folha, 2.945 prefeitos se candidataram à reeleição e 1.385 conseguiram, um índice de 47%.
O levantamento é um indicativo de que o controle da máquina municipal não é garantia de permanência dos mandatários no poder.
Também reforça as análises de que neste ano o eleitor esteve mais desencantado com a política. O índice de votos brancos e nulos bateu recorde, e candidatos que adotaram discurso de que não eram políticos tiveram êxito em grandes cidades.
É a primeira vez que a Justiça Eleitoral compila as informações de reeleição, por isso não é possível comparar o dado com anos anteriores.
Neste ano, no momento do registro para a eleição, cada candidato assinalou voluntariamente se estava ou não disputando a reeleição.
Os dados, porém, ainda não constam nas planilhas disponíveis no site do TSE –foram enviados após pedido da Folha e cruzados com os resultados das urnas.
Nas capitais, 15 dos 20 prefeitos que concorreram foram reeleitos. Os cinco derrotados caíram já no primeiro turno.
EM DIFICULDADES
O presidente da Confederação Nacional dos Municípios, Paulo Ziulkoski, diz que neste ano estar com a máquina pública derrotou “e não ajudou” quem concorreu, que precisou lidar com o desgaste de um período de receitas públicas em queda.
“O cidadão não distingue União, Estado e município: olha para quem está próximo dele”, diz Ziulkoski, ex-prefeito no Rio Grande do Sul.
Ele afirma que o discurso da “mudança” foi marcante nessa eleição. “Ocorreu em cima de propostas que não vão ser cumpridas. Vai haver uma decepção de novo dentro de um ano ou dois.”
O presidente da confederação argumenta que não há perspectiva de aumento de receitas e a situação deve se agravar com a proposta do teto de gastos públicos, em tramitação no Congresso.
A entidade pesquisa por conta própria a taxa de reeleição desde que ela passou a ser permitida, em 2000, e afirma que, em eleições anteriores, sempre mais de 55% dos prefeitos que concorreram acabaram se elegendo. O pico foi em 2008, com 66%.
O professor de ciência política da Universidade Federal de Pelotas (RS), Álvaro Barreto, que pesquisa reeleição, afirma que a quantidade de reeleitos sofre efeitos “sazonais” que dependem de circunstâncias como a conjuntura econômica e a insatisfação com o meio político.
“Em 2008, a taxa de reeleição foi bastante elevada. Os municípios e a economia estavam em um processo positivo”, diz.
Há dois anos, governadores já enfrentavam dificuldades: dos 18 que tentaram se reeleger, 7 não conseguiram.
O professor David Fleischer, da Universidade de Brasília, também vê um reflexo da situação da economia.
“Muitos prefeitos não têm dado conta do recado com os recursos que têm, e isso tem dado muita insatisfação, principalmente em saúde e educação.” (Fonte: Folha de São Paulo).